Procurando a sonoridade

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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Fraturando a ponta do nariz...


O Invisível nos salta aos olhos

                Quantas vezes você já notou que as pessoas da sua casa não te enxergam? Se você não estiver atrapalhando ou sendo convenientemente útil, nem notam que você está ai lendo um texto na internet de boa? E pensar que é muito normal ficarmos tomados pela culpa ao ignorar as pessoas em condições de rua, fingir que não os vemos não é a mesma coisa de não ver. Ainda assim, lá no fundo, a condição ruim ou até mesmo a fatalidade de um estranho te traz um alívio inconsciente de que aquela tristeza não é sua... e as tristezas que você não enxerga? Aquelas na sua casa? As crianças crescem e não ‘incomodam’ mais... talvez seja um sinal de depressão.
                As vezes parece que não somos vistos, e provavelmente não somos notados assim como a ponta do seu nariz... o cérebro ‘apaga’ essa informação para você enxergar o horizonte, e assim como não somos vistos, as vezes não vemos nossos entes dentro de nossa própria casa com o mesmo olhar que direcionamos ao estranho que teve a máxima coragem de pedir ajuda a um estranho completamente desconhecido, normalmente você também.
                O mais complicado é se tocar disso, o tal do olhar para si mesmo primeiro para poder entender o mundo a sua volta... e isso não saiu de um estudo elaborado e específico da sociedade humana, eu estava conversando com meu filho sobre o ‘hype’ que vem tendo o Rock Progressivo (Uma volta dos que não foram), e ao desenrolar dos assuntos citou o seu professor de introdução a pesquisa, que além de professor também é psicólogo (ou vice-versa), e essa ‘invisibilidade cotidiana’ caiu como aquela feijoada supertemperada... pesou.
                Passamos a tarde vendo o preço de coisas que não vamos comprar, um dos meus programas preferidos, depois de comer o ‘xis’ da padaria, e aquela história de não ser notado se não for por um extremo... será que também não é a razão de alguns relacionamentos ‘acabarem do nada’, quer dizer, um ou outro parceiro, quando não os dois, param de se notar, se ver, elogiar a mudança do cabelo, ou comentar a falta dele em alguns casos, enfim... deixaram de se ‘paquerar’ a ponto de estranharem por que estão juntos, e lá se vai mais um divórcio que veio ‘do nada’, aquele nada que vai tomando conta dos espaços entre o casal, dos pais com seus filhos, da relação entre irmãos, e é engraçado: dessa vez realmente alguém deixou MESMO de ver outro alguém, não foi aquele instinto de virar o rosto ou evitar o contato visual para não ter que justificar por que você não pode dar algumas moedas (que provavelmente você vai perder no vão do sofá) para algum estranho.
              
  Sei que é sério, que deveria repensar no tratamento que dispenso ao pessoal da minha casa, aos amigos, poucos e resistentes ao tempo, que ainda realizam o sacrifício de me aturar... mas não consigo deixar de me imaginar como a ponta do nariz da minha esposa... ou dos meus filhos... e agora vou ficando por aqui, vou ali incomodar o povo de casa e dizer que amo cada um deles... um grande abraço e até a próxima coluna de quinta (feira ou categoria, pode escolher).
               

Um comentário:

  1. Grande Fábio, Sensacional observação, que realmente possamos dedicar um tempo com quem esta ao nosso lado, e descobrir que é o melhor tempo investido.

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